A nova razão do mundo: ensaios sobre a sociedade neoliberal, de autoria de Pierre Dardot e Christian Laval, aborda o neoliberalismo
e interessa aos estudos inerentes às plataformas digitais de trabalho.
Ao longo do capítulo 4, contempla o “Homem Empresarial”, que é produto
da “racionalidade neoliberal”. Esta, impõe novos comportamentos e a
transformação do sujeito, que, passa a agir como “empreendedor”, se portando de
acordo com as exigências do mercado e fazendo valer a máxima de Margareth
Thatcher, cujos termos foram: “a economia é o método. O objetivo é mudar o coração
e a alma”.
No fenômeno da uberização, que atrai milhões de trabalhadores e cujas
rotinas são geridas pelos algoritmos, é perceptível a presença dessa
racionalidade. Há um total controle no que tange à distribuição das atividades,
à maneira como ocorre o gerenciamento, em relação ao preço cobrado, etc.
Constituído o “sujeito neoliberal”, que conduz sua vida como uma empresa,
verifica-se o quanto essas premissas se aproximam da realidade dos
trabalhadores que atuam em plataformas digitais de trabalho.
O livro deixa claro que o neoliberalismo não se traduz apenas pelo
distanciamento estatal da economia ou pela retirada de direitos
trabalhistas/sociais, mas, sobretudo, pelo fato de essa “nova razão” permear
todas as esferas da vida, delineando toda a atuação do indivíduo, uma vez que
implementa uma subjetividade neoliberal, apreendida e incorporada por todos. A
norma de concorrência é uma constante, culminando na mitigação da
solidariedade, como nos ensinam os autores: “A racionalidade neoliberal
tem como característica principal a generalização da concorrência como norma de
conduta e da empresa como modelo de subjetivação” (DARDOT; LAVAL,
2016, p. 17).
São múltiplas possibilidades de reflexão ao longo da leitura, sendo,
portanto, uma obra de valor inestimável para a condução de tais estudos, bem
assim para uma maior compreensão acerca do neoliberalismo.
Referência:
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaios sobre a
sociedade neoliberal. São Paulo. Boitempo, 2016.